Autor: Vianna de Carvalho (espírito)
No
justo momento em que a técnica atinge as culminâncias, e o homem sofre
aflições sem termo, somos convidados a recordar Jesus-Cristo exclamando:
“Eu venci o mundo!”
*
A ciência vaticinou, para o século corrente, a morte das doutrinas
espiritualistas, tendo em vista a marcha natural do progresso
intelectivo.
*
E em verdade, até à metade do século passado, a filosofia espiritualista
não passava de um amontoado de informação místicas e de arranjos
dogmáticos incapazes de competir com os sistemas filosóficos vigentes,
resistindo aos descobrimentos da ciência investigadora.
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Coube a Allan Kardec a inapreciável tarefa de demonstrar, pela pesquisa
experimental, a realidade do fenômeno da imortalidade da alma. E, graças
a isso, o Codificador da Doutrina Espírita se destaca entre os vates do
pensamento universal, pelo gigantesco empreendimento de positivar,
consoante os dados oficiais da indagação, a continuação da vida além da
morte.
*
A tarefa era, a princípio, sob todos os aspectos intratável,
considerando-se a posição da ciência ante os rudimentos da nascente
Psicologia.
*
De um lado, o cientificismo pontificava arbitrário, e o empirismo, no outro extremo, ditava leis falseadas sobre a verdade.
*
Kardec, porém, embrenhou-se no matagal das informações.
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Não foi somente um coligidor dos informes dos Espíritos. Foi, antes de
tudo, um admirável garimpeiro da verdade, separando da ganga o ouro
rebrilhante, na mensagem eterna.
*
De 1854 a 1869, pesquisou, selecionou, reparou, fez acréscimos, sopesou e
apresentou uma doutrina que pudesse enfrentar o materialismo,
justamente no momento em que Engels e Marx iriam desdobrar os conceitos
hegelianos, favorecendo os aspectos dialético e histórico, já que o
materialismo mecanicista não podia resolver o problema fundamental da
imortalidade por lhe faltarem os elementos basilares para destruir a
realidade da alma.
*
Com Hegel, o pensamento passou a ser uma função do cérebro, cuja
atividade era pensar, controlando as manifestações nervosas da vida.
*
Allan Kardec se distinguiu pela tarefa de demonstrar que o pensamento
não é apenas uma função do cérebro, sendo este a conseqüência de um
pensamento anterior que nele atua através de um outro cérebro mais
sutil, comando geral e força dinâmica mantenedora do equilíbrio: o
psicossoma.
*
E acolitado por figuras da enfibratura de Crookes, Zölner, do caráter de
Lombroso e de Lodge que vieram a público, posteriormente, apresentar o
resultado das suas pesquisas, Kardec demonstrou, à saciedade, o sentido
incontroverso da imortalidade da alma, em experiências que se tornaram
notáveis, realizadas mais tarde, com o curso de médiuns do quilate de
Florence Cook, Eusápia, Daniel Home...
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A tarefa se avultava por estarem em jogo os sistemas do monismo e do dualismo.
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Allan Kardec demonstrou também que o homem não é constituído apenas de
duas peças: o corpo e alma. Mas é formado por uma tríade de elementos: o
espírito, perispírito e matéria, sendo o perispírito encarregado de
funções específicas na engrenagem harmoniosa da vida hominal.
*
E quando o materialismo ateu, no seu aspecto dialético, veio a campo
combater a Doutrina Espírita, o Espiritismo, como escola filosófica, na
sua feição dialética, apresentava “O Livro dos Espíritos” como protesto
nobre ao abuso e à arbitrariedade das informações hegelianas, às
doutrinas nele inspiradas, bem como às velhas fisolofias espiritualistas
sem fundamentação científica.
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E a previsão da ciência, que aguardava para o século presente a morte
das doutrinas espiritualistas, faliu, porque o século XX, com os seus
valiosos descobrimentos e tirocínios, não pode retificar um único
conceito da doutrina postulada pelo gigante lionês que, na atualidade,
se faz o maior antídoto aos grandes males que afligem a Humanidade.
*
Como o materialismo é um veneno letal, o Espiritismo é o seu anticorpo,
preparado para diminuir ou dirimir os efeitos terríveis dos ódios
organizados secularmente e agora disseminados pelo ateísmo
existencialista.
*
Enquanto o homem avança pelas trilhas do prazer, outros homensaparecem
como exegetas do trabalho e apóstolos da caridade, formando a
mentalidade para o Terceiro Milênio que colocará bem alto o estandarte
da luz cristã refletida na mensagem nobre da Doutrina Espírita.
*
E embora se previsse o soçobro das religiões no século XX, Allan Kardec,
semelhante a Copérnico, que veio por cobro às fantasias a respeito do
sistema solar, por também termos às superstições a respeito da
imortalidade da alma, arracando-a do sobrenatural e do dogma,
retificando a sua feição mística, graças à documentação experimental de
que a bibliografia espírita é farta, enriquecendo a ciência
espiritualista para competir e esclarecer a ciência atual, ajudando-a na
busca da verdade.
*
Ante as dores que se acumulam inevitáveis para os próximos tempos, sem
nos desejarmos transformar em Parcas a tecerem a túnica mortuária da
Civilização, o Espiritismo é a grande esperança, porque afirma não ser a
morte mais do que uma grande transição para o despertamento na
verdadeira vida: a Vida Imortal.
*
Pontifiquemos, desse modo, com Nosso Senhor Jesus-Cristo, o herói da
sepultura vazia, atendendo o programa da solidariedade universal,
transferindo o sangue novo da fé para os corações esfacelados pelo medo e
acendendo em toda a parte a lâmpada da convicção imortalista. Sigamos a
trilha da verdade, cumprindo o nosso dever para, vitoriosos, atingirmos
o porto da nossa gloriosa Imortalidade.
(Página recebida pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 15-1-1962, em Salvador, Bahia).
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