Convivência pacífica
Muitos Centros Espíritas estudam alternativas de organogramas e
arranjos administrativos como forma de melhorar a eficiência de suas
atividades, o que fazem corretamente. Mas é solução parcial. Além dos aspectos
administrativos, há que se considerar primordialmente a necessidade constante
de estruturação da espinha dorsal do Centro Espírita, que é a relação pessoal
entre seus trabalhadores e os laços de amizade que os devem unir e se tornar
cada vez mais apertados.
O quadro harmonioso da convivência entre os membros da Casa
Espírita deve ser colorido com as cores do trabalho, da solidariedade e da
tolerância, pois, conforme Emmanuel nos diz: “Viver é de todos, mas a convivência é
o fator que nos ensina a compreensão e a solidariedade de uns para com os
outros.” 1
A convivência pacífica entre as pessoas, por certo, é uma questão
de maturidade do senso moral, sendo, portanto, uma conquista de cada um, fruto
de esforço e exercício diário de edificação dessa virtude. Somente adquirindo
os valores da convivência pacífica atingiremos a condição de manter
relacionamentos pessoais estáveis, duráveis, promissores, responsáveis,
fraternos.
A busca comum do aprendizado e o empenho de todos no exercício das
lições espíritas é o grande elemento de aproximação de todos nós num Centro
Espírita, fatores que propiciam e incentivam a convivência. E, uma vez juntos,
ali reunidos, a solidariedade e a tolerância devem ser nossas companhias
comuns. Tornar-se útil, ser gentil, bondoso e respeitoso, são instrumentos
valiosos para fazer de nossa presença uma contribuição para o êxito da
convivência pacífica, o que significa dizer que a proposta da convivência
pacífica deve ter início com compromisso perante a própria consciência e
seguir, como desdobramento, em nossas atitudes diárias na Instituição (claro
que todo esse arrazoado se aplica em todos os momentos de nossas relações
humanas, na sociedade, na família, etc.).
Em todas as atividades de um Centro Espírita, cada um precisa
estar se perguntando como agir o mais adequadamente em face das orientações
doutrinárias para que, quando diante de problemas, as soluções possíveis possam
ser buscadas sob a ótica espírita e não segundo ponto-de-vista de fulano ou
beltrano. Nas deliberações de uma organização espírita, deve preponderar o
pensamento de Allan Kardec.
É interessante de se observar uma reunião de diretoria de Centro
Espírita. Quase sempre se discute a pauta pretendida à luz do que pensa cada um
dos participantes, mas quase nunca esse colegiado procura, em conjunto,
encontrar o pensamento eminentemente kardequiano para o que se apresenta para o
debate e a deliberação. Claro que se nessas reuniões houver enorme luta para
que preponderem as opiniões pessoais, nem sempre transcorrerá em clima de
harmonia, e, por conseguinte, nem sempre há de terminar bem.
Quando de nossa participação em reuniões de trabalho, do
colegiado, de diretoria, de conselhos diretivos, ou outros momentos que sejam,
exercitar espontaneamente o respeito, a tolerância, a compreensão, a fraternidade.
Não se pode conceber reunião em Centro Espírita, ou outra organização espírita,
onde faltem esses elementos básicos da convivência pacífica.
Também não se pode conceber quem se diga trabalhador espírita e
fique: de rixas com outros membros da Casa; cheio de melindres para com tudo e
para com todos; com rancores e mágoas intermináveis para com esse ou aquele
companheiro de lida; eternamente de mau-humor, tratando os demais com
descortesia, com deselegância, com deseducação, com grosserias; tecendo pré-julgamentos
sobre quem quer que seja; fomentando disse-me-disse-me sobre qualquer pretexto;
de pancadaria verbal contra os demais obreiros; fazendo críticas destrutivas em
conversas de boca a ouvido pelos cantos da Casa.
É preciso, portanto, saber falar e saber ouvir. Saber fazer e
saber dar oportunidade a que outros também o façam. Saber orientar e saber
acatar orientações. Saber atender quem chega e saber procurar atendimento,
quando for o caso. Saber colaborar e saber aceitar colaboração.
Até porque, a rigor, sabemos como faz falta a solidariedade e a
tolerância, em torno de trabalho sério mais em benefício da Casa e da Causa
espírita, do que em benefício pessoal!
Como faz falta a amizade entre os membros de um Centro Espírita!
Como faz falta o Espiritismo bem estudado e bem compreendido entre
os espíritas!
Como faz falta o sentimento de afeto pelo Centro Espírita que
freqüentamos!
E, se persistirem tantas carências assim, a união fraterna de
todos se apresentará num tempo ainda muito distante.
E a falta de união significa falta de unidade orientativa, o que
quer dizer que a Casa está dividida, e, casa dividida rui, na afirmativa de
Jesus.
Como medida profilática, recordemos Bezerra de Menezes:
“Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista.
Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos. Distanciados entre nós,
continuaremos à procura do trabalho com que já nos encontramos honrados pela
Divina Providência.” 2
Em resumo: sabemos como construir clima de convivência pacífica, e
sabemos que a construção é trabalho de cada um, cujo início não pode ser
postergado. Logo, só nos falta vontade de assim fazer.
Afinal, todos necessitamos de compreensão e de tolerância,
cabendo-nos distribuir tais valores na medida exata em que esperamos um dia
recebê-los de alguém em momento próprio.
1. XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel, Convivência, CEU, S.
Paulo, 1ª ed., 1984, introdução.
2. Bezerra de Menezes - Psicografia de F. C. Xavier - Mensagem de União “Unificação” nov.-dez./1980.
2. Bezerra de Menezes - Psicografia de F. C. Xavier - Mensagem de União “Unificação” nov.-dez./1980.
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